A história de que ela precisa ser neutra ficou para trás. No novo modelo de cozinha – aberto para as salas – cabe de tudo, mas principalmente estampas. Padrões, ora coloridos, ora preto e branco, dão ritmo a estes cinco projetos
Texto Carol Scolforo Repórter de imagem Viviane Gonçalves Fotos Marcelo MagnaniSobre a mesa de madeira laqueada branca, desenhada por Luciano e executada pela Marcenaria Tamiguchi, copo da Utilplast. Pendentes italianos, E27, da Pendant Lampe, trazidos de Milão pela moradora. As cadeiras foram garimpadas em brechós
A cozinha deste dúplex tem um sabor especial. O apartamento divide a vida da família em duas: durante a semana, eles usam a parte de baixo. Na sexta-feira à noite, eles praticamente se mudam para o andar de cima, a grande cozinha gourmet, que engole os ares de rotina do andar de baixo e torna os fins de semana muito mais gostosos.
Foram nove meses de reforma, demolições e reconstruções intensas para chegar ao clima de um loft, mas sem a cara fria que o estilo carrega. “A ideia era projetar um ambiente bonito, mas com um jeito informal, gostoso, para a moradora cozinhar nos fins de semana e receber os amigos”, conta o arquiteto Luciano Dalla Marta, autor do projeto. Para contar essa história e imprimir a personalidade dos moradores ali, ele investiu em elementos bem brasileiros.
No piso, um porcelanato especial imita cimento queimado. Para não perder em aconchego visual, a madeira de demolição equilibra a aparência da bancada. As cadeiras em torno da mesa – repare nas de palhinha – são todas diferentes, o que ajuda a descontrair o espaço.
Hits absolutos no cenário, os pendentes em diferentes posições também deixam claro o gostinho de descontração. Com lâmpadas expostas e dimerizadas, os moradores dão o tom que quiserem à iluminação.
O resultado é um espaço elegante e, ao mesmo tempo, despojado, para encontros divertidos, sem cerimônia nem frescura. “Como nós temos o costume de receber, queríamos fazer algo para os amigos se sentirem bem. E ficou a nossa cara. As pessoas se servem e ficam muito à vontade”, diz a moradora.
Na bancada, hortelã e alecrim da Anni Verdi: a moradora ama ter à mão ervas frescas para cozinhar. Ao lado, todos os apetrechos a postos para as reuniões informais: tábua de madeira, saleiros e pimenteiro, porta-colheres de pau, escorredor de madeira e pratos, tudo da Utilplast
Um quartinho antigo da casa deu origem a uma área de serviço maior, e assim sobrou um vão. A arquiteta não pensou duas vezes e desenhou uma cristaleira moderna com nichos de concreto de 3 cm de espessura, feitos pela Delta Plan Engenharia. Bandeja com xícaras e compoteira com biscoitos, ambos da L’Oeil, ao lado, para contrastar com a base de concreto da bancada, a cozinha ganhou cores vivas: rosa-choque (ref. 9630, Coral) na parede e no tampo da pia, armários de Formica vermelho cardeal, executados pela LN Marcenaria, piso de cimento queimado amarelo e ladrilhos roxo e verde em elementos como a mesa de jantar
A mistura é mais que inusitada, de chocar qualquer monocromático. Ladrilhos roxos, bancada da pia e parede cor-de-rosa, armários vermelhos e piso amarelo. A cozinha da pedagoga Ana Paula Yazbek, 40 anos, é um banquete para quem ama cores. E teve mesmo um certo atrevimento da arquiteta e designer Adriana Yazbek. “Ela queria uma casa feliz, e isso era o norte”, diz, bem-humorada, a criadora do espaço.
Adriana se sentiu mais segura porque viu que o apartamento tinha bastante luz natural, o que favoreceria as cores. Além disso, sala e cozinha se integrariam, permitindo que uma das duas fosse marcante. O ponto de partida foi o ladrilho estampado em tons que a moradora ama (veja à esquerda). A mistura de rosa e vermelho foi sugestão de Adriana, e o piso de cimento queimado amarelo cria a base de contraste. O concreto é outra escolha acertada, que arremata pontos estratégicos do espaço e se conecta bem com o ladrilho. Tudo foi testado antes e aprovado por Ana Paula, o marido e os dois filhos, Marina e Pedro, de 12 e 10 anos.
E tem mais: a moradora acredita que as cores influenciem o espírito de quem entra ali. “As pessoas ficam à vontade aqui”, resume. Outra boa influência da decoração na rotina foi a pia de silestone magenta, mimo do projeto, que até incentiva o marido de Ana Paula, Marcos, a lavar a louça.
Em dias comuns, as cores inspiram comidinhas caseiras, muitas saladas e bolos. A família toma café da manhã e janta todos os dias em volta da mesa de ladrilhos. Nos fins de semana, a pedagoga e os filhos se apoderam da bancada. “A cozinha é nossa área de lazer”, brinca Ana Paula.
A batedeira retrô deixa a cozinha cheia de memórias. No bowl, da Suxxar, a massa comprova que dali sai coisa boa: a moradora adora receber com bolo quentinho. Repare que o balcão serve para esconder a bagunça de eletrodomésticos, ao lado, para deixar o design dos móveis limpo, a arquiteta evitou puxadores. Assim, fez gavetas chanfradas com vãos embutidos. Em outras, há até fendas estratégicas que facilitam abrir a peça. Sobre o fogão, panela Le Creuset, encontrada na Suxxar
Sobre o balcão da cozinha, batedeira Arno, da Objetos de Cena, e gamela de madeira, da Depósito Kariri, com vaso de cerâmica estampado, da L’Oeil, com manjericão, ao lado, a pia de Silestone magenta é uma das vedetes do espaço. Próximo ao ladrilho roxo e verde, tem combinação irresistível
A cozinha de Ana Paula tem sabor de macarrão com shimeji e torta de cogumelos. Os tomatinhos são xodó da filha, que adora comê-los a qualquer hora. O liquidificador é onipresente na rotina: muito usado para preparar sucos e bolos. "Por ser de vidro, é mais higiênico, tornou-se especial", diz ela. O modelo pequeno é da Osterizer, encontrado na Suxxar
Desenho antigo:
As cores do ladrilho seguem o gosto da família. Adriana Yazbek encomendou peças de teste à Dalle Piage, que fez as combinações de tons em cima de um desenho antigo. Com as amostras em mãos, foi feita a prova na parede para chegar à melhor peça. Como o processo é bem artesanal, geralmente a entrega é feita em 30 dias. Na manutenção, em áreas úmidas o indicado é aplicar cera ou resina e evitar a aplicação de produtos ácidos, que reagem com o concreto e podem alterar as cores das placa.
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